Sr. Smiles e família na Escócia

Certas milhas são especiais

Chegada a Edimburgo

Nunca visitei um país tão orgulhoso de sua própria história como a Escócia. O curioso é que boa parte de suas mais importantes atrações se encontre em um mesmo caminho. Um caminho tão especial que, ali, até mesmo o Sistema Internacional de Medidas perde a validade.

É difícil não querer “filosofar” sobre a passagem do tempo em Edimburgo. A história da capital escocesa remonta ao século 1, quer dizer, às origens do próprio cristianismo. Não admira haver tantas igrejas por lá! Escolhemos uma, localizada em um lugar tão especial que as outras podem muito bem esperar.

Royal Miles

Não importa o país, uma milha vale sempre 1.609 metros. Mas existe um lugar onde uma milha vale 1.814. É a “milha escocesa”, que corresponde exatamente à distância entre o Castelo de Edimburgo e o Palácio de Holyroodhouse. Essa distância é que os escoceses chamam de “Royal Mile” (Milha Real), o mais antigo caminho da capital.

Foto da Royal Mile na Escócia

A “catedral”

É sempre muito difícil tentar explicar a sensação que as catedrais me causam. É como se elas me separassem do espaço e do tempo. Não é só o ruído lá fora que diminui. O vento para, a temperatura cai, e a luz, filtrada pelas cores vivas dos vitrais. Tudo isso coloca a gente em contato direto com algo maior.

Cada centímetro de pedra erguido dentro da Saint Giles foi pensado para fazer a gente se calar, sem que para isso fosse preciso uma ordem sequer, dita ou por escrito. Basta olhar para cima.

Mas, apesar de sua grandiosidade triunfante, e do modo como os escoceses a chamam, Saint Giles jamais foi de fato uma catedral. Para tanto, ela precisaria ser ou ter sido a sede de um bispo. Acontece que a “catedral” de Saint Giles já foi tudo (até mesmo prisão e tribunal), menos o centro de um bispado. Mas sabe como é: hábito é hábito.

Com 900 anos (e mais de um milhão de visitas só em 2018), Saint Giles é a principal referência, não só da Royal Mile mas de toda a parte medieval. Vale demais a pena suspender o tempo e o espaço, deixando-se elevar por algumas horas em seu interior.

Como amar seu país

Acho que nunca vou deixar de me impressionar com o amor dos escoceses pela história de seu país, ainda mais quando me lembro que a Escócia tem nada menos que 1.300 anos!

Todo esse amor e apreço pela memória é expresso no dia a dia das pessoas de lá, nos menores detalhes, em especial nas constantes (e sutis) demonstrações de afeto com que a gente é recebido, seja em casa ou em espaços públicos.

Sr. Smiles em frente a estátua no Museu Nacional da Escócia

Mas, em meio a tantos lugares para se conhecer, só um parece ser capaz de conferir uma dimensão especial a todo esse afeto: o museu. No caso, o National Museum of Scotland (Museu Nacional da Escócia).

De todos os fatos históricos ali expostos, para mim o mais importante é este: só um povo consciente e seguro de si mesmo pode conviver plenamente com outros. Não à toa, o National Museum mantém dois edifícios, um dedicado à sua própria memória, outro à cultura de outros países.

Do Scott ao Scotch

Amor pela história, amor por histórias. Em frente à Jenners há um monumento de 61 metros erguido ao escritor Walter Scott, pai do romance histórico (o mais famoso é Ivanhoé). Acredite, Geni e eu vencemos 142 degraus em espiral. Haja joelho! Mas a vista vale a pena. Não tanto quanto a que se tem de cima do Calton Hill ou do Castelo de Edimburgo, mas vale a pena.

Ao concluir os 288 degraus em espiral (sempre em espiral!) até a plataforma mais alta, o prêmio é um amplo panorama da Princess Street e do centro. Aí você pensa no quanto uma cidade pode ser moderna e belissimamente antiga, ao mesmo tempo. Lá de cima também é possível apreciar um pouco dos arredores e, lá no fundo, a “cidade velha” (medieval).

Para descansar da subida, fomos ao Scotch Whisky Experience conferir se o lugar faria mesmo jus ao nome. E como faz! É como promete o material de divulgação: “Sua jornada sensacional pelo mundo do uísque escocês começa aqui!” Uma verdadeira turnê por esse universo, tanto para os paladares mais experientes quanto para os iniciantes.

Foto com copos a mesa no Scotch Whisky Experience

Fazer a reserva não foi especialmente difícil, mas para pegar bons lugares você precisa levar em conta que os escoceses chegam cedo, especialmente nos dias de inverno, mais curtos.

Há muito o que fazer: de passeios a degustações, de história a oficinas de harmonização. E você ainda pode entrar para um clube que dá direito a diversas atividades a preços especiais. Nós, recém-chegados, nos contentamos em degustar e bater papo – coisas em que os escoceses são mestres.

Agora é descansar um pouco até nosso próximo passeio por Edimburgo.

Te vejo lá!

Por: Smiles J. Exel

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